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Unidade 3


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Introdução

Com certeza você vai se lembrar de algum ou vários momentos da sua vida em que ouviu a célebre frase “Era uma vez...”. Talvez tenha se lembrado de alguma música. O fato é que a narração encanta todos os seres humanos há séculos, ela absorve a atenção, desperta o interesse e a curiosidade e liberta a imaginação.

No seu dia a dia, enquanto se comunica com seus amigos e familiares, você conta e ouve “histórias” e mais “histórias”; se prestar atenção comprovará isso.

A tipologia narrativa é muito poderosa, é como se você, ao pegar o lápis, a caneta ou o computador, brincasse de ser “Deus”; você adquire a capacidade infinita de criar mundos, dar e tirar vida, construir personagens fracos ou fortes, riquezas infindáveis, romances ardentes, narrativas inspiradoras, enfim, você pode dar asas a sua imaginação, ousar e, simplesmente, criar.

Apesar de estar presente principalmente em textos ficcionais, também é comum mobilizarmos sequências narrativas em artigos de opinião, entrevistas, relatórios, reportagens e notícias. São muitos os gêneros textuais que precisam contar uma história para criar os sentidos esperados e cumprir os seus objetivos comunicativos.

Além disso, nesta unidade abordaremos outra tipologia muito importante na estruturação de gêneros textuais: a expositiva. Também tratamos de questões importantes a respeito das produções textuais: a importância de escrever com finalidade, sabendo que tipo de texto produziremos e para quem.

Vamos conhecer melhor a tipologia narrativa e a expositiva e sua presença em textos literários e não literários, caro(a) aluno(a)?

Bons estudos.

Tipologia Narrativa

Provavelmente você já usou sequências narrativas hoje! Isso porque é natural que o ser humano conte muitas histórias em um só dia. Ao contar como você passou a noite, você já está, de certa maneira, contando uma história (MARCUSCHI, 2010).

Em relação à presença da tipologia narrativa em gêneros textuais, é preciso diferenciar quando a presença da história é o fio condutor do gênero e sua razão de existir, ou seja, o objetivo comunicativo que esse gênero textual pretende alcançar, e quando ele é apenas uma tipologia secundária. Acompanhe o quadro a seguir.

Gêneros textuais que sempre apresentam a tipologia narrativa

Gêneros textuais que podem utilizar a tipologia narrativa de forma secundária

Romance

Conto

Novela

Epopeia

Crônica Narrativa

Apólogo

Fábula

Parábola

Causo

Anedota

Lenda

etc.

Reportagem

Notícia

Relatório

Entrevista

Poema

Música

Artigo de opinião

Crônica argumentativa

Redação de vestibular

carta

e-mail

etc.

Quadro 3.1 - Gêneros textuais e a tipologia narrativa
Fonte: Elaborado pela autora.

A primeira coluna faz referência aos gêneros textuais que têm como objetivo comunicativo principal contar uma história. Cada gênero tem formas próprias de estruturar a narração, mas todos têm esse princípio em comum.

Por sua vez, a segunda coluna diz respeito a gêneros que não têm como principal objetivo contar histórias, mas podem trazer, em seu interior, uma pequena narrativa. Por exemplo, no meio de uma entrevista o entrevistado pode contar uma história da sua infância; em um artigo de opinião o autor pode ilustrar um argumento com uma pequena passagem narrativa.

De maneira geral, podemos apontar que não existe uma fórmula mágica ou um modelo pronto e acabado para narrar bem; o que temos são elementos (sem os quais é impossível fazer uma boa narração) e a estrutura, representada pela paragrafação do texto (o esqueleto do texto).        

No esquema a seguir existe um caminho seguro (não tem erro!), mas é só para começar; conforme avança na leitura, você vai adquirir meios e caminhos próprios que, certamente, terão seu toque pessoal para redigir bons textos.

Algumas perguntas-chave podem ajudar a planejar o texto com predomínio da tipologia narrativa:

  • O QUE eu vou contar?
  • ONDE vai acontecer?
  • QUEM vai participar?
  • POR QUE estou contando esta história?
  • COMO se desenvolvem os fatos?
  • QUAL é a solução?
  • POR ISSO a consequência foi?

Cada pergunta corresponde a um elemento narrativo (CEREJA; GUIMARÃES, 2014):

  • O QUÊ?  → TRAMA
  • ONDE?   → ESPAÇO (deve ser caracterizado por meio da DESCRIÇÃO)
  • QUEM?   → PERSONAGENS (devem ser caracterizados por meio da DESCRIÇÃO)
  • POR QUÊ? → CONFLITO INICIAL
  • COMO? → DESENROLAR DOS FATOS
  • QUAL? → CLÍMAX
  • POR ISSO? → DESFECHO/CONSEQUÊNCIAS DO CLÍMAX
Figura 3.1 - Narrativa
Fonte: Elaborada pela autora.

É importante que você tenha o cuidado de fechar todos os conflitos que foram abertos ao longo do texto!

Foco Narrativo

O foco narrativo é a visão de mundo do narrador. É o lugar para onde ele olha.

A história sempre é contada por um NARRADOR, que também é um personagem criado pelo autor (aquele que segura a caneta) para narrar os fatos. Pode ser dividido em: 1ª pessoa do discurso (eu/nós) e 3ª pessoa do discurso (ele, ela, eles, elas). Em 1ª pessoa o narrador é o personagem, os verbos serão conjugados na 1ª pessoa e o narrador participa da trama, é um de seus personagens. Por sua vez, quando em 3ª pessoa do discurso (ele, ela, eles, elas), o narrador encontra-se como observador ou onisciente. No primeiro caso os verbos serão conjugados na 3ª pessoa e o narrador não participa da história enquanto personagem, limita-se a contar o que vê e/ou ouve.

Até agora, caro(a) aluno(a), vimos quais elementos estruturam e compõem uma narrativa. Vamos, neste momento, ler alguns exemplos de gêneros textuais que utilizam a tipologia narrativa na sua constituição?

Gênero Textual Conto (exemplo 1)

O conto a seguir é da autora brasileira Marina Colasanti, considerada uma das maiores escritoras de literatura infantil e juvenil. O texto faz parte do gênero textual conto, que também é um gênero literário. Observe na leitura os seguintes pontos:

  1. a presença do narrador – está em primeira ou terceira pessoa?
  2. a construção das personagens.
  3. o espaço, o tempo, o enredo.
  4. como a história é contada? Onde ela acontece?
  5. como começa a história? O que traz a complicação? Como é o desfecho?

A moça Tecelã

Acordada ainda no escuro, como se houvesse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se no tear.

Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.

Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.

Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.

Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.

Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava seus dias.

Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidados de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.

Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.

Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao lado.

Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbeado, corpo emplumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.

Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.

Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.

E feliz foi, por algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.

– Uma casa melhor é necessária – disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.

Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. -Por que ter casa, se podemos ter palácio? -Perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates de prata.

Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.

Afinal, o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.

– É para que ninguém saiba do tapete – disse. E antes de trancar a porta à chave advertiu: – Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!

Sem descanso tecia a mulher caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que queria fazer.

E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.

Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça para não fazer barulho, subiu a longa escada do torre, sentou-se ao tear.

Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.

A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou, e espantado olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe o corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.

Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Quadro 3.2 - A moça Tecelã
Fonte: Colasanti (2008).

O conto que acabamos de ler é uma releitura moderna dos contos de fadas. Ou seja, o objetivo comunicativo desse texto é despertar emoções, ativar conexões, fazer com que você pense, reflita, perceba o mundo de outra forma. É um texto literário e, portanto, sua função será literária: o texto que existe para nos fazer mais humanos, nos trazer mais próximo da nossa essência.

Em um conto, uma narrativa é desenvolvida. Ela sempre terá poucos personagens e terá um conflito resolvido em poucas páginas, diferente de outros gêneros textuais que também são literários e têm o objetivo de contar histórias, como o romance, a novela e a crônica literária. Não traremos outros exemplos, pois a leitura do conto de Colasanti já ilustra a forma como os elementos da narrativa ficam estruturados em um gênero textual que usa a tipologia narrativa. Entretanto, caro(a) aluno(a), fica o convite para que você procure conhecer mais a obra de Marina Colasanti e de outros autores importantes no nosso país.

Agora vamos ver um exemplo da tipologia narrativa em um texto não literário. Ou seja, quando a narrativa não é exatamente o objetivo comunicativo do gênero, mas é mobilizada para construir sentidos.

Tipologia Expositiva

Na entrevista transcrita no exemplo 2 temos um título e um subtítulo. Eles anunciam aos leitores quais serão os assuntos abordados na entrevista. O subtítulo é “Filha de italianos nascida na Eritreia e uma das mais importantes e premiadas escritoras brasileiras, ela comemora o aniversário com uma série de livros”. Perceba que esse período mobiliza a tipologia expositiva. Isso porque temos, em um primeiro plano da explanação de um assunto, uma apresentação. O mais importante aqui não é argumentar, descrever, narrar  nem convencer. É apenas expor, mostrar, explicitar, informar. Em suma, a tipologia expositiva sempre terá, em primeiro plano, a informação e a explicação (MARCUSCHI, 2010).

Esse material que você está lendo mobiliza principalmente essa tipologia: estão sendo passadas explicações a respeito de leitura e produção de texto. Ou seja, você, como leitor(a), está em contato com informações e explicações. Claro que esse livro mobiliza outras tipologias, mas a que predomina é a expositiva (COSTA-VAL, 2006).

Há uma série de gêneros que são eminentemente expositivos. Podemos citar: verbetes de dicionário, verbetes de enciclopédia, textos didáticos, artigos científicos, reportagens de divulgação científica, teses, dissertações, monografias, trabalhos acadêmicos em geral, além de gêneros orais, como palestras, seminários, conferências, aulas expositivas.

Gênero textual Artigo Científico (exemplo 3)

Caro(a) aluno(a), vimos, na unidade anterior, que um artigo científico pode mobilizar a tipologia descritiva técnica. Agora vamos destacar a presença da tipologia expositiva. Leia o trecho do artigo científico a seguir.

A publicação de artigos científicos é uma das formas pelas quais os pesquisadores divulgam os resultados de suas investigações e reflexões. Para que um artigo seja publicado em periódico científico, algumas qualidades são requeridas. O tema deve ser relevante, a pesquisa de qualidade e o relato bem feito. O presente texto aborda noções práticas que podem auxiliar a preparação de relatos bem feitos de investigação.

•           Passo 1. Decida o objetivo do artigo A redação se torna mais fácil quando se tem objetivo claro e bem focado. Objetivos pobremente definidos ou em grande número prejudicam o processo de redação, pois se torna difícil alcançar as qualidades de um bom texto, como clareza, concisão e sequência lógica. O objetivo de uma pesquisa pode ficar mais claro se formulado como pergunta. Por exemplo, recentemente, quando se notou o aumento do número de casos de microcefalia, os pesquisadores formularam as seguintes perguntas. Existe associação entre microcefalia e infecção pelo vírus Zika? Essa associação é do tipo causa-efeito? Hoje, há fortes evidências de que a associação entre microcefalia e infecção pelo vírus Zika seja causal.

Quadro 3.4 - Trecho do artigo científico
Fonte: Pereira (2017, on-line).

Perceba que, apesar da presença das tipologias descritiva e argumentativa, o texto é predominantemente expositivo: explica detalhes sobre um assunto específico, no caso, a relevância e a produção de artigos científicos.

E a escrita, como fica?

Caro(a) aluno(a), até agora vimos como algumas tipologias estruturam os gêneros textuais. Apesar de ainda não termos abordado a tipologia argumentativa, é importante já abordarmos um assunto fundamental: a escrita de textos.

O ideal é que as produções de textos fujam das armadilhas da artificialidade: nós escrevemos sempre com uma intenção e para alguém. Isso vale para as produções escolares também: o momento de escrita precisa fazer sentido para que o aluno realmente escreva um texto em que mobilize seus conhecimentos linguísticos. Para tanto, professores e educadores precisam estar atentos às condições necessárias para a produção de textos.

Segundo Barbeiro e Pereira (2007, p. 12), “o professor tem o poder de desencadear as diversas situações em que se recorre à escrita”. Porém, para isso, precisa sempre observar todos os elementos que constituem o ato de escrita. Fora da escola, escrevemos sempre em formato de gêneros, que possuem uma função social e histórica determinada. Dentro do possível, isso deve ser sempre observado. No quadro a seguir, apresentamos algumas perguntas que o professor deve fazer para si mesmo antes de aplicar propostas de produção textual. São perguntas que não valem apenas para professores, mas para qualquer pessoa antes do momento de uma produção escrita.

Pergunta
Por que deve ser feita?
Quem escreve? Para definir se será uma produção individual, em dupla ou em grupo. Você precisa perceber, também, qual o seu papel social no momento da escrita: aluno de uma universidade? Escrevendo como filho ou filha? Como empregado de uma empresa?
Para quem escreve? Um texto é escrito sempre para um destinatário. Será um texto lido apenas pelo professor? Ou se pode pensar em uma maneira de ter outros leitores e, assim, tornar a produção do texto mais dinâmica? No caso de situações que não envolvem sala de aula: quem lerá o texto? Ele será capaz de entender? Como posso tornar o texto compreensível para essa pessoa?
Sobre o que escreve? Os alunos precisam entender a razão de estarem escrevendo e dominar o assunto e a estrutura composicional do gênero em que vão escrever. Ou seja, você precisa conhecer o gênero textual que irá escrever.
Com que objetivos? O professor deve pensar em outras motivações além da nota para fazer os alunos ficarem motivados com práticas de escrita. Quanto mais parecer com uma prática de escrita real da vida em sociedade, mais motivados os alunos estarão. No caso de situações fora de sala de aula, sempre escrevemos textos com algum objetivo comunicativo definido. Precisamos ter clareza dele.
Como escreve? Dependendo do gênero, um texto pode ser escrito de diferentes maneiras, por isso, é pertinente perguntar: como pode ser colocado em prática o processo de escrita? Serão utilizadas que ferramentas? (lápis e borracha, canetões e cartazes, quadro e giz, computador, etc.)? Posso escrever de forma coloquial? Devo ter a maior rigidez possível com relação à norma padrão da Língua Portuguesa?
Em que meios ou suporte permanecerá o texto produzido? Será um trabalho apenas entregue ao professor ou há uma maneira de divulgar os textos produzidos por alunos em um jornal da escola, em blogs, redes sociais, dentre outros possíveis suportes. Isso vale para outras situações de escrita: estou escrevendo em papel? Para o WhatsApp? Para rede social?
Que resposta pode obter? Um texto é escrito para um leitor, e alguns gêneros podem ter retornos e respostas. Além disso, o professor, como mentor do processo, tem a responsabilidade de dar respostas em relação à produção de seus alunos, respostas que devem ser mais do que uma simples nota.

Quadro 3.5 - Perguntas que encaminham produções textuais
Fonte: Adaptado de Barbeiro e Pereira (2007).

Aprofundando ainda mais as perguntas elencadas no quadro anterior, podemos pontuar, pela perspectiva bakhtiniana (BAKHTIN, 1992; 2003), alguns elementos que auxiliam na construção de um contexto para a produção textual. O primeiro deles é finalidade: um texto precisa ter um objetivo claro e delimitado. Não podemos pedir produções textuais sem ter uma clareza do que queremos a partir do desenvolvimento da atividade prática de escrita. Oralmente, o professor precisa deixar claro para os alunos qual a finalidade da atividade. Somente se a atividade fizer sentido para a realidade social, histórica e ideológica dos alunos que o aprendizado de escrita terá condições de se concretizar. Sem um objetivo, uma produção textual corre o risco de não ter sentido e parecer uma simples perda de tempo.

O segundo elemento importante é a delimitação de um interlocutor, pois todo texto é escrito para um alguém, para o outro (BAKHTIN, 1992). Claro, na escola, o grande interlocutor de todos os textos é o professor, mas os alunos precisam ter a noção de que os textos circulam em sociedade e possuem um alcance maior. Em seguida, é preciso pensar no gênero textual, pois a escrita de textos é efetivada por meio dos gêneros. O aluno precisa ler e conhecer vários exemplos de textos escritos no gênero escolhido pelo professor. Uma vez escolhido o gênero, é necessário definir o suporte em que ele irá circular (papel, virtual, cartaz etc.). Finalmente, o professor pode definir qual será a circulação social efetiva do texto produzido em sala de aula.

FIQUE por dentro

Nome do filme: Central do Brasil

Gênero: Drama

Ano: 1998

Um dos principais filmes da história do cinema nacional. Na perspectiva da nossa disciplina ele é recomendado, pois um dos motes da narrativa é o ofício de escrever cartas para as pessoas que não tiverem acesso à alfabetização e ao letramento. É uma pujante história sobre o uso da língua, alteridade e emoção.

Reflita

Gênero

O gênero é uma escolha que leva consigo uma série de consequências formais e funcionais. A própria seleção da linguagem segue a decisão do gênero e seu funcionamento discursivo no contexto pretendido. Na realidade, se observamos como agimos nas nossas decisões na vida diárias, dá-se o seguinte: primeiramente, tenho uma atividade a ser desenvolvida e para a qual cabe um discurso característico. Esse discurso inicia com a escolha de um gênero que por sua vez condiciona uma esquematização textual.

Fonte: Marcuschi (2008, p. 85).

O texto injuntivo sempre utilizará muito o modo imperativo. O modo imperativo é o modo verbal que tem uma função muito marcada: ele se dirige diretamente ao interlocutor e expressa ordens, pedidos, sugestões, desejos, convites, orientações, alertas, avisos.

A tipologia injuntiva é muito centrada no receptor; ou seja ela precisa ser pensada justamente para atingir quem vai ler ou ouvir a mensagem, pois espera-se que ele cumpra a ordem, recomendação, pedido que está explícito no texto.

Há alguns gêneros textuais que são essencialmente injuntivos como receitas, manual de manuseio, bulas de remédio. Publicidades, propagandas, comerciais também são gêneros textuais que utilizam muito essa tipologia para convencer consumidores a adquirir seus produtos e serviços.

Um exemplo prático para reconhecer a tipologia injuntiva é reconhecer uma sequência de comandos e instruções.

Indicação de leitura

Nome do livro: O texto sem mistério - Leitura e escrita na universidade

Editora: Ática

Autor: Norma Goldstein, Maria Silvia Louzada e Regina Ivamoto

ISBN: 8508126840

Ano: 2005

Leitura obrigatória para quem tem interesse em aprofundar e aplicar os conhecimentos partilhados nesta unidade. As autoras, competentes professoras e pesquisadoras, criaram um material basilar que analisa aspectos da escrita e leitura pertinentes ao que se espera de um acadêmico. A obra abarca desde conceitos basilares, como linguagem, coesão e coerência, até análise de gêneros textuais que fazem parte da vida diária do estudante, como notícia, reportagem, artigo de opinião, resenha, relatório de pesquisa, projeto de pesquisa científica e trabalho de conclusão de curso. A obra também apresenta várias sugestões de atividades de autoestudo.



Caro(a) aluno(a), chegamos ao fim da unidade que tratou da tipologia narrativa e expositiva.  Espero que a leitura tenha provocado o interesse e o prazer de conhecer melhor textos que utilizem essas tipologias, até porque elas são muito presentes no nosso cotidiano.

Narramos e explicamos o tempo todo. O seu uso correto, seja em sua forma escrita ou oral, é de fundamental importância. Operacionalizar isso foi o objetivo da disciplina: temos que perceber os efeitos de sentido que são produzidos nos textos que lemos e, também, nos textos que escrevemos.

Além disso, iniciamos uma discussão importante: o contexto de produção da escrita. Ninguém escreve do nada, para ninguém. Sempre escrevemos diante de um contexto, apoderando-nos de um gênero textual, com um objetivo comunicativo. Se é assim na nossa vida, é importante que momentos de escrita na escola e na universidade sejam também assim.

Espero que você se sinta motivado a ler mais, conhecer mais e, também, a treinar produção de texto, identificando as tipologias que você mobiliza. Bons estudos!

Atividade

Levando em conta os conceitos de gêneros e tipologias textuais, leia com atenção o texto a seguir:

Bird Box: Sandra Bullock em atuação soberba em pós-apocalíptico poderoso

Por Rafaela Gomes

Nota: 4

As particularidades combinadas dos cinco sentidos do corpo humano são o que fazem com que a nossa percepção do mundo ao redor seja completa. Não é difícil concordar que a ausência de uma delas promove lacunas na nossa compreensão sobre tudo, mas dimensionar isso na prática é uma experiência totalmente diferente do que simplesmente ter a empatia sobre o assunto. Abordando a complexidade de uma vida com certas limitações, Bird Box acaba sendo muito mais que um filme pós-apocalíptico. E embora, erroneamente, seja comparado com Um Lugar Silencioso, sua essência caminha para uma vertente mais distinta. Muito mais do que enfrentar os desafios do desconhecido em situações adversas, o longa faz uma sensível e profunda reflexão sobre o que nós nos acostumamos a chamar de deficiências.

E talvez o erro seja justamente analisar Bird Box como uma extensão barata de um estrondoso sucesso independente nos cinemas. A nova produção da Netflix é sim capaz de promover uma tensão palpável, mas também articula uma narrativa que faz uso da nossa própria imaginação, sem mostrar as “criaturas” donas do pavor e do medo, apresentando apenas sua sombra diante do público. E por fazer jogos mentais com um medo que nasce e mata a partir dos receptores sensoriais, a gigante do streaming também promove uma experiência sinestésica na audiência. Naturalmente, somos tragados por um contexto tortuoso de um mal que não tem face, mas gera consequências fatais. Talvez isso seja um clichê do gênero, mas aqui, ele funciona por uma ótica um pouco mais ampla (olha o trocadilho!).

Em Bird Box, uma onda de suicídios é desencadeada a partir de uma manifestação “alienígena”, que cega a lucidez das pessoas, levando-as a cometer atrocidades a si mesmas a partir de estímulos da própria consciência. Basicamente, é como se traumas ou memórias dolorosas do passado chamassem ao pé do ouvido, provocando uma drástica e explosiva insanidade mental. Dentro dessa premissa, Sandra Bullock divide parte do seu tempo cercada por sobreviventes enclausurados em uma quase mini sociedade e rodeada pelas claras águas de um rio sem fim. Com uma narrativa que se desenvolve com sua cronologia entrelaçada, início e meio se misturam, desenhando um roteiro que mais diz respeito à sobrevivência humana do que a um mal aterrorizante em si.

                       

Fonte: GOMES, R. Crítica | Bird Box: Sandra Bullock em atuação soberba em pós-apocalíptico poderoso. Cinepop, 16 dez. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2JAQ51Y>. Acesso em: 4 jul. 2019.

Assinale a alternativa que apresenta corretamente o gênero textual e as tipologias predominantes do texto:

Gênero discursivo: notícia. Tipologias predominantes: descritiva, expositiva e narrativa.

Incorreta: A alternativa não está correta. O texto apresenta uma crítica de um filme. Para tanto descreve o filme, usa argumentos para comprovar seu ponto de vista e expõe informações. Dessa forma, estamos diante do gênero resenha, que tem como função comunicativa expor uma opinião crítica sobre uma obra, e há o predomínio das tipologias argumentativa, descritiva e expositiva.

Gênero discursivo: resenha. Tipologias predominantes: argumentativa, descritiva e expositiva.

Correta: O texto apresenta uma crítica de um filme. Para tanto, descreve o filme, usa argumentos para comprovar seu ponto de vista e expõe informações. Dessa forma, estamos diante do gênero resenha, que tem como função comunicativa expor uma opinião crítica sobre uma obra e há o predomínio das tipologias argumentativa, descritiva e expositiva.

Gênero discursivo: relato. Tipologias predominantes: argumentativa, injuntiva e narrativa.

Incorreta: A alternativa não está correta. O texto apresenta uma crítica de um filme. Para tanto descreve o filme, usa argumentos para comprovar seu ponto de vista e expõe informações. Dessa forma, estamos diante do gênero resenha, que tem como função comunicativa expor uma opinião crítica sobre uma obra, e há o predomínio das tipologias argumentativa, descritiva e expositiva.

Gênero discursivo: Artigo de opinião. Tipologias predominantes: argumentativa, expositiva e descritiva.

Incorreta: A alternativa não está correta. O texto apresenta uma crítica de um filme. Para tanto descreve o filme, usa argumentos para comprovar seu ponto de vista e expõe informações. Dessa forma, estamos diante do gênero resenha, que tem como função comunicativa expor uma opinião crítica sobre uma obra, e há o predomínio das tipologias argumentativa, descritiva e expositiva.

Gênero discursivo: resumo. Tipologias predominantes: injuntiva, narrativa e descritiva.

Incorreta: A alternativa não está correta. O texto apresenta uma crítica de um filme. Para tanto descreve o filme, usa argumentos para comprovar seu ponto de vista e expõe informações. Dessa forma, estamos diante do gênero resenha, que tem como função comunicativa expor uma opinião crítica sobre uma obra, e há o predomínio das tipologias argumentativa, descritiva e expositiva

Atividade

Um texto de qualquer gênero textual constrói os sentidos a partir de um tripé básico: o produtor do texto, o texto e o leitor. Levando em conta esse tripé, leia o poema de Paulo Leminski a seguir:

Não discuto

não discuto

com o destino

o que pintar

eu assino

             

Depois de relacionar o poema ao quadro analise as assertivas:

I- O produtor do texto é o escritor brasileiro Paulo Leminski. Seu estilo de escrita está marcado no texto e há pistas espalhadas que encaminham sentidos, como a forma dos versos e a escolha de palavras.

II- Apresenta a predominância de dois tipos textuais: narrativo e argumentativo. Parte de uma tipologia narrativa, já que há uma história presente no texto e tem também partes argumentativas.

III- O leitor tem total liberdade de interpretação. Por exemplo, a leitura do poema pode ser interpretada como uma crítica à exploração desordenada do meio ambiente.

Assinale a alternativa correta:

Somente a I

Correta: é preciso relacionar o poema com os agentes de construção de sentidos do texto e assim identificar: a autoria do poeta Paulo Leminski, a forma do texto, que é um poema, e o papel do leitor na sua interpretação. Uma vez feitas essas relações, constatamos que a única alternativa verdadeira é a I, pois as outras não estão corretas.

Somente a II

Incorreta: A II é falsa, pois não é perceptível a presença de tipologia narrativa ou argumentativa.

Somente a III

Incorreta: A III é falsa, pois o leitor precisa interpretar por meio do contexto e do que está expresso no texto, e no poema não há nenhuma pista de que se trata de um poema sobre meio ambiente.

Apenas I e II

Incorreta: A II é falsa, pois não é perceptível a presença de tipologia narrativa ou argumentativa.

Apenas II e III

Incorreta: A II é falsa, pois não é perceptível a presença de tipologia narrativa ou argumentativa. A III é falsa, pois o leitor precisa interpretar por meio do contexto e do que está expresso no texto, e no poema não há nenhuma pista de que se trata de um poema sobre meio ambiente.

Atividade

Tancredo é aluno de ensino médio e precisa escrever uma redação de vestibular sobre respeito no trânsito. No seu texto, depois de introduzir o tema e apontar a importância de motoristas terem responsabilidade, ele contou uma pequena história sobre um motorista alcoolizado para ilustrar melhor seus argumentos.

Em relação à experiência de Tancredo, analise as assertivas a seguir.

I – Tancredo utilizou o gênero redação de vestibular e, em sua constituição, duas tipologias: a narração e a descrição.

II – Redações de vestibular cumprem funções sociais e comunicativas e, portanto, devem ser consideradas gêneros textuais.

III – Uma redação é um gênero com uma forma fixa e imutável, portanto, não se pode usar narrativas. Há chances de Tancredo zerar a nota de sua redação.

Assinale a alternativa que apresenta as assertivas corretas.

Todas as assertivas são verdadeiras.

Incorreta: Alternativa incorreta. A assertiva III é falsa, já que há possibilidade de usar narração e outras tipologias em uma narração.

Apenas I está correta.

Incorreta: Alternativa incorreta, pois a II também é verdadeira.

Apenas I e II estão corretas.

Correta. A I é verdadeira, já que um texto pode mobilizar mais de uma tipologia textual em sua constituição.

Apenas II e III estão corretas.

Incorreta, pois a III é uma alternativa falsa, e I e II são verdadeiras.

Apenas III está correta.

Incorreta, pois a III é uma alternativa falsa, e I e II são verdadeiras.

Unidade Concluída

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